Sabadou com S de Saudade
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A semana e seus cinco dias úteis às vezes aplasta os sentimentos. Não dá pra sentir muito entre o Bom Dia Brasil e o Jornal Nacional. Os outros dias são inúteis, aí sim tá liberado. Mas não se engane, não é tão democrático assim, você deve escolher se quer sentir coisas positivas ou negativas, são só 48 horas, bebê.
Nos testes da internet eu já fui diagnosticado como membro da Grifinória, como pudim-de-pão e tendo um temperamento melancólico. Pudim-de-pão é muito sem carisma, Grifinóri
a porque sou muito previsível, mas melancólico está na cara, não precisava nem de teste (aliás, você nem reparou, mas o BuzzFeed Brasil não existe mais).
Geralmente eu tiro o meu sábado para arejar a casa, seja ela qual for, e para ser melancólico. O algoritmo já sabe, me sugere vídeos de soldados dos Estados Unidos surpreendendo as famílias voltando de uma guerra (sempre há uma guerra para que os soldados estadunidenses voltem, o que é bom, porque todo sábado eu tenho conteúdo fresquinho), também me entrega vídeos sobre obras da teledramaturgia duvidosa: Veja como estão os atores de Cúmplices de um Resgate! (meu querido, eu nunca perdi eles de vista), Você lembra que a Marjorie Estiano gravou um CD? (foram 3 e um DVD). O problema é que eu sou uma vítima fácil, porque olho pra tudo isso e fico com saudade.
Saudade é uma palavra que só existe no português. Foda. Se eu tivesse nascido em outro lugar, não teria que passar por esse sentimento? “Ah, mas nas outras línguas existem verbos que representam a saudade”, você vai me dizer. Mas nem no português eu consigo traduzir a dor física de viver o presente sabendo que tudo isso vai virar passado depois e eu sou melancólico demais para usar isso como consolo, porque até mesmo os momentos ruins virarão passado. Mas eu sou apegado aos momentos ruins, aos tombos e às cicatrizes, da mesma maneira que coleciono cartões postais e revistas do RBD. O meu maior medo na vida é de sentir saudade e as duas certezas que eu tenho na vida é que eu vou sentir saudades e sou um pudim-de-pão.
A memória é tudo que eu tenho.